Transformações tecnológicas ampliaram nos escritórios de advocacia, mostra pesquisa em inovação

Data: 11/09/2023

A pesquisa resultou no relatório “Formando a Advocacia do Presente e do Futuro – Habilidades de Pesquisa e Atuação”, que formatou um mapa de habilidades e competências inédito que traduz o contexto de transformações na advocacia.

Uma carreira bem-sucedida nas principais bancas de advocacia do Brasil exige domínio técnico e teórico do Direito e uma constante atualização. Porém, o rápido processo de digitalização da sociedade, que chegou à própria prática jurídica, a entrada em vigor da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e o incentivo à utilização de métodos extrajudiciais de solução de controvérsias pelo Código de Processo Civil de 2015, ampliaram a necessidade de desenvolvimento de novas competências, como gestão de processos, conhecimentos tecnológicos e habilidades socioemocionais.

Esse é um dos dados identificados pelo CEPI da FGV Direito SP (Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), que buscou identificar, entre 400 bancas de advocacia de todos os portes atuantes em diferentes regiões do país, o quadro atual do impacto da tecnologia no mercado jurídico.

A pesquisa resultou no relatório “Formando a Advocacia do Presente e do Futuro – Habilidades de Pesquisa e Atuação”, que formatou um mapa de habilidades e competências inédito que traduz o contexto de transformações na advocacia.

Para Ana Paula Camelo, pesquisadora do CEPI  FGV Direito SP e coordenadora do estudo, “o mapa que resulta da pesquisa mostra como diversas combinações de habilidades e competências encontram espaço com a transformação dos escritórios de advocacia no Brasil. Essas oportunidades, no entanto, esbarram nas lacunas de formação e na incompatibilidade com os instrumentos de contratação”.

Em uma das perguntas, a pesquisa solicitou que se elencasse, em ordem de prioridade, quais seriam as habilidades mais importantes entre as seguintes: formação jurídica, conhecimentos em gestão, habilidades socioemocionais e competências tecnológicas.

Para 39% dos respondentes, formação jurídica ainda é uma habilidade prioritária; seguida por 26%, que escolheram competências em gestão como as mais importantes; 20% das respostas afirmaram considerar mais importantes habilidades socioemocionais e, por fim, 15% consideraram como mais relevantes conhecimentos tecnológicos. Somadas, as competências extrajurídicas somam 61% das habilidades prioritárias para as bancas de advocacia.

Ao destrinchar as habilidades que os entrevistados consideram ser um diferencial positivo, apenas 3 competências jurídicas constam entre as 10 primeiras colocadas.

Habilidades que diferencial positivamente – Lista por ordem de %

Transformações tecnológicas ampliaram nos escritórios de advocacia, mostra pesquisa em inovação
Fonte: CEPI FGV Direito SP, 2023

Criação de novas áreas

A pesquisa também levantou as principais áreas de atuação ou funções criadas nos escritórios nos últimos 05 anos. Entre as 05 primeiras, estão departamentos ligados a LGPD (39%), marketing (35%), áreas de negociação, mediação e conciliação (26%), gestão do conhecimento (26%) e gestão de inovação (23%). Essa questão admitia múltiplas respostas.

Criação de novas áreas – Últimos cinco anos 

Transformações tecnológicas ampliaram nos escritórios de advocacia, mostra pesquisa em inovação
Fonte: CEPI FGV Direito SP, 2023

A pesquisa ressalta que em mais de 90% dos escritórios de grande porte, essas áreas foram criadas nos últimos 05 anos. A liderança de áreas criadas para LGPD visou atender à Lei 13.709/2018, que criou o sistema de proteção de dados pessoais.

Porém, ainda considerando respostas múltiplas, 48% dos escritórios afirmaram não terem criado novas áreas nos últimos 05 anos, ao passo que 33% reconheceram que criaram essas áreas por demanda de clientes e 17% por iniciativa de profissionais. 30% disseram que as novas áreas foram criadas para inovar na prestação de serviços jurídicos e 29% para implementar ou melhorar a estrutura tecnológica.

Contratação

O estudo também se preocupou em avaliar qual a posição dos escritórios em relação à contratação de profissionais.

Em relação aos próximos 05 anos, a grande maioria concordou com a afirmação, total ou parcialmente, de que a tecnologia será um critério diferencial entre os escritórios de advocacia (93%) e que a advocacia será muito impactada pela tecnologia, com a necessidade de se reinventar algumas práticas (92%). Já 38% dos respondentes acreditam que a tecnologia não terá impacto na atuação do advogado.

Não obstante esse prognóstico, a pesquisa identificou que 25% dos respondentes afirmaram não ter nenhuma estratégia para lidar com as lacunas de formação de profissionais; 31% dos escritórios financiam cursos somente para advogados específicos e 36% recorrem a programas internos. O total de escritórios que afirma financiar cursos para todos os advogados interessados soma 41%.

Quando se pergunta qual é a estratégia adotada para contratação de advogados, 96% recorrem à avaliação de currículo e formação e 95% em entrevista individual para avaliar comportamento e conhecimento. Mas ainda chega a 90% o número de respondentes que afirmam recorrer à indicação como forma de contratação.

“O impacto da tecnologia no mercado jurídico extrapola a discussão restrita a ferramentas tecnológicas e tem, cada vez mais, repercutido na criação de novas áreas, funções e serviços jurídicos, juntamente com a criação de oportunidades para novos e diferentes perfis de profissionais”, explica Ana Paula Camelo.

Para Adrián Fognini, managing diretor da América Latina da Thomson Reuters, empresa global de conteúdo e tecnologia e apoiadora do estudo do CEPI FGV Direito, “o segmento jurídico atravessa significativas transformações que trazem novos desafios, mas também oportunidades de criação de valor inéditas. Os aspectos destacados no estudo mostram que o profissional vem se transformando frente a essas novas dinâmicas, demandas e tecnologias, buscando alavancar seu papel estratégico junto aos seus clientes e à sociedade. Habilidades tecnológicas e de gestão, interpessoais e conhecimento atualizado são aspectos cruciais para os profissionais que querem ser referência, tanto para seus clientes quanto para o segmento jurídico como um todo”.

Para acesso à  apresentação, clique aqui.

Fonte: Fundação Getúlio Vargas

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