Ales preserva importante acervo artístico do estado

Data: 13/01/2023

Autoria: Wanderley Araújo

Dependências da Assembleia Legislativa abrigam não só a memória política, mas também cultura e história, presentes em quadros, esculturas e outras peças de arte

Para quem nunca teve a curiosidade de adentrar o Palácio Domingos Martins, sede da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), é possível que se tenha em mente a imagem de um local dominado por muita formalidade. 

Mas a verdade é que, além de Casa política – a mais representativa do povo capixaba –, o prédio do Parlamento abriga muitas obras de arte, principalmente pinturas a óleo, esculturas e quadros em alto-relevo de madeira e cobre. 

Logo na entrada da recepção principal, localizada no térreo, uma escultura em bronze de Domingos Martins, capixaba mártir da Revolução Pernambucana, fuzilado em 1817, dá boas-vindas aos visitantes. 

Posicionada em meio às escadarias que conduzem ao pilotis da Ales, a estátua, esculpida pelo artista italiano Carlos Crepaz, eterniza a memória do mártir, exibindo-o de peito estufado, dando dimensão à sua personalidade tida como destemida.  

O culto à memória de Martins está presente também no hall do Plenário Dirceu Cardoso em quadro trabalhado em madeira por Crepaz, numa cena em que tenta reproduzir a agonia que precedeu o fuzilamento do republicano. 

O extermínio se deu por ordem da Coroa Portuguesa em represália à sua participação no movimento pernambucano, a última sublevação contra o Império, antes da Independência do Brasil, que viria a ser proclamada em 7 de setembro de 1822.

Devido à sua importância histórica, o nome de Domingos Martins foi inscrito em 2011 no Livro dos Heróis do Brasil do Panteão da Pátria – monumento projetado por Oscar Niemeyer, localizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Também no hall do plenário o visitante pode contemplar mais duas obras de expressão artístico-cultural: à esquerda e ao fundo estão os quadros de relevo em  bronze “Igreja da Misericórdia” e “Palácio Domingos Martins”.

A Igreja não existe mais, pois foi demolida no início do século 20 para a construção da antiga sede da Ales, localizada na Praça do Palácio Anchieta (centro de Vitória) e onde hoje funciona a Casa de Música Sônia Cabral.

Os dois quadros foram esculpidos pelo grego Ioannis Andonios Zavoudakis. O artista imigrou para o Brasil na década de 1960 e tem parte de suas obras espalhadas em palácios capixabas. O trabalho em prol da cultura no estado, inclusive, rendeu ao artista o título de Cidadão Espírito-Santense.

Grego, como é conhecido, assina também o monumento da Cruz Reverente da Praça do Papa, em Vitória, logradouro que passou a ter esse nome após a missa realizada por João Paulo II no local, em 1991 – espaço que na época era conhecido como o aterro da Conduza.

Arariboia

Ao chegar ao hall do pilotis da Ales o visitante pode apreciar duas obras de alto impacto, tanto no contexto histórico quanto em dimensões. Uma tela de 2,22 x 2,52 metros mostra o evangelho sendo levado à selva. O óleo sobre tela, de 1920, é assinado por Antônio Parreiras, conceituado artista fluminense, e mostra cena que simboliza a catequização de indígenas pelo jesuíta José de Anchieta.  

Também no pilotis se encontra a pintura do premiado artista plástico cachoeirense Levino Fanzeres intitulada “Partida de Arariboia”. Com 4,75 x 3,26 metros, o quadro é considerado a maior tela pintada do acervo artístico estadual e retrata uma cena real que aconteceu na Prainha, em Vila Velha, em 1560.

No caso, reproduz o imaginário do índio Arariboia partindo para guerrear contra os franceses na Baía da Guanabara e fundar a cidade do Rio de Janeiro. Fanzeres também é o autor das telas “Crepúsculo” e “Ressurreição de Lázaro”, que ornamentam a sala da Presidência da Assembleia.

 

Na Presidência também se destaca o quadro “Procissão de São Benedito”, da pintora capixaba Marian Rabello, a primeira muralista espírito-santense, que tem obras tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

Restauro 

No final da década de 1980 parte do acervo de obras de arte do Legislativo estadual teve que ser restaurado pelo artista plástico capixaba Kleber Galvêas, em seu ateliê na Barra do Jucu, em Vila Velha. 

Galvêas recuperou pinturas a óleo, esculturas em bronze, talha em madeira e chapas de metal. Segundo o especialista, quase todas as telas apresentavam extensas áreas de repinturas mal feitas, perda de matéria e estragos provocados por fungos, cupins e brocas.

Das 23 peças restauradas, Kleber considera “Partida de Arariboia” a pintura mais importante, tendo sido, inclusive, a obra que representou o Espírito Santo na exposição comemorativa do Centenário da Independência do Brasil. Ele destaca também “A Ressurreição de Lázaro” como “tela primorosa”, que chegou a ser exposta em Buenos Aires.  

Valor histórico

O fotógrafo Antônio Carlos Sessa Neto (Tonico), responsável pelo Centro de Memória e Bens Culturais da Ales, considera que se houvesse maior conscientização das pessoas a respeito do valor histórico e artístico da cultura regional e nacional tudo o que é oferecido pela Ales nesse contexto seria mais apreciado. 

Tonico ressalta que não apenas o Parlamento capixaba, mas o Palácio Anchieta e a sede do Tribunal de Justiça (TJES) também dispõem de obras de artes de valor inestimável. 

Ele acredita que visitas de estudantes de escolas e universidades aos palácios públicos seria um excelente instrumento no sentido de formar públicos consumidores de arte e cultura, pois nesses espaços se encontra parte da história do Espírito Santo. 

Fonte: Assembleia Legislativa do Estado do Espirito Santo

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