A metáfora da mão humana e o negócio jurídico

Data: 10/04/2023

Autoria: José Paulo Graciotti

Na mão humana existem 5 dedos com funções diferentes que combinados formam essa ferramenta extraordinária e é importante ressaltar que para um escritório funcionar bem, como a mão humana, é necessária a existência de todos os dedos com suas funções combinadas e balanceadas e não o conjunto de vários dedos iguais.

A mão humana, junto com o cérebro são os principais responsáveis pela diferenciação dos seres humanos e de nossa dominância na Terra. Com seus 27 ossos, 35 músculos, pode segurar, empurrar, bater, puxar, carregar, fazer gestos e sinais além de uma capacidade sensorial imensa. É uma maravilha da engenharia evolucionária!

E o que isso tem a ver com a gestão de escritórios de advocacia?

A primeira vez que pensei nesta metáfora foi em 2016 e desde então tenho a tenho utilizada para exemplificar a similitude com a gestão do negócio jurídico chamado escritório de advocacia. De lá para cá (já se passaram 7 anos!) muita coisa mudou no mundo jurídico com  a crise de 2008, depois a pandemia da COVID e recentemente com o aparecimento do ChatGPT. Todos esses acontecimentos forçaram e estão forçando  os gestores deste negócio a tornarem mais eficientes, ágeis, mais humanos com seus colaboradores e principalmente mais perto de seus clientes.

Como já havia citado, a analogia entre esses dois elementos, no meu ponto de vista é quase perfeita pois, a gestão racional e eficiente de um escritório (e praticamente de qualquer empresa) deve ter basicamente um elemento pensante e decisório (cérebro) associado a um elemento executor muito capaz, flexível, eficiente, sensível e adaptável (mãos).

O cérebro humano encontra seu elemento análogo na estrutura racional decisória que cada escritório deve ter: o líder empreendedor, naqueles de pequeno porte, até a estruturas organizacionais mais complexas contendo CEO’s, diretorias, comitês executores, gerentes, etc. nos de grande porte.

Para que essa estrutura organizacional funcione corretamente é necessária a existência de uma ferramenta que seja capaz de executar as tarefas de maneira correta e eficaz. Para isso cada um de seus elementos deve ter funções ou características específicas, que combinadas executam corretamente todas as suas funções.

O que mudou, então nesses últimos anos?

Resposta: a percepção da qualidade! Não basta mais ser um escritório que tenha qualidade técnica jurídica para garantir a sobrevivência e o crescimento, pois atualmente existe uma quantidade enorme de escritórios que a tem e essa característica não é mais uma garantia e sim uma premissa para estar no mercado disputando os clientes. 

Por esses motivo  estou revisitando a metáfora e a adaptando à nova realidade.

Para que a gestão do negócio jurídico seja eficiente é necessária a existência previa da qualidade, da mesma que na nossa metáfora a existência da palma da mão é condição sine qua non para a existência e funcionalidade dos dedos. Cada “dedo” deve executar corretamente as funções de cada um dos atributos necessários à gestão eficiente deste negócio, como a seguir.

A MÃO e a GESTÃO

A metáfora da mão humana e o negócio jurídico
Obs: a distribuição das funções foi meramente casual. Não há uma função especifica para cada dedo!

1 – Qualidade técnica e capacidade de produção: é a “palma” da mão, a base fundamental e premissa para estar no mercado. Colocamos aqui o nível técnico-jurídico do escritório (em última instância de seus membros) que será responsável pela capacidade de atender com profundidade os assuntos mais complexos e de agregar valor ao cliente com as suas soluções.

2 – Atendimentos a clientes e qualidade na prestação dos serviços: é uma dos pontos mais importantes na atual conjuntura, pois interfere sensivelmente na percepção de qualidade que o cliente tem do escritório. Este “dedo” representa a capacidade de atender, satisfazer e se possível surpreender os clientes com atitudes proativas e inovadoras na prestação de seus serviços. É importante lembrar que o bom atendimento vai desde o atendimento telefônico, email, whatsapp, etc. passando obviamente pelo serviço jurídico propriamente dito, até a qualidade na emissão das faturas e de seu acompanhamento.

3 – Capacidade de captação e marketing institucional: neste “dedo” colocamos a capacidade de atração de clientes e todas as iniciativas de marketing institucional responsáveis pela alimentação do crescimento da empresa.

4 – Capacidade de gerenciamento de trabalho e equipe: neste “dedo” colocamos a forma com que os componentes do escritório organizam seus trabalhos, os assuntos e contatos sob sua responsabilidade. Entra neste “dedo” a forma como os gerentes (normalmente os mais “seniors”) fazem a chada gestão de talentos, fazendo o acompanhamento, avaliação constante e motivação da equipe talentos (um dos dois principais assets do negócio).

5 – Gestão do conhecimento:  este “dedo” representa o segundo  asset importantíssimo do escritório, pois é a acumulação do conhecimento (de sua propriedade) acumulado e refinado aos longo de sua existência. A gestão correta deste asset  é fator fundamental na eficiência e rentabilidade do negócio.  

6 – Visão empresarial: neste “dedo” devemos colocar a capacidade de entender as causas e consequências de todas as atitudes e decisões tomadas internamente (a chamada governança), que afetarão a eficiência e o sucesso do negócio, ou seja, área de atuação, nicho de mercado, organização societária, administração, tecnologia aplicada, equipe, crescimento, investimentos, estratégia, imagem, etc.

Sabendo que cada pessoa tem seu próprio perfil profissional, podemos extrapolar essa metáfora para cada indivíduo (sócio) que, da mesma forma que a mão tem dedos diferentes, cada individuo poder ter algumas dessas características inatas mais  ou menos desenvolvidas e a combinação dessas pessoas dentro de uma sociedade é uma arte.

Na mão humana existem 5 dedos com funções diferentes que combinados formam essa ferramenta extraordinária e é importante ressaltar que para um escritório funcionar bem, como a mão humana,  é necessária a existência de todos os dedos com suas funções combinadas e balanceadas e não o conjunto de vários dedos iguais.

Mãos com cinco polegares não funcionam bem e desta forma, os sócios com características diferentes devem se complementar!

Fonte: Migalhas

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