Liderança tóxica: Veja os comportamentos de chefes que mais causam pedidos de demissão
Data: 17/05/2024
Autoria: Layane Serrano
O abuso de poder é uma das principais razões dos funcionários pedirem demissão atualmente, segundo pesquisa. Veja quais são as outras ações e como evitá-las em sua carreira ou empresa
Você já passou pela experiência de ter uma liderança tóxica? Esse é um dos temas que mais se destaca no mundo corporativo, segundo João Márcio Souza, CEO da Talenses Executive e fundador do Talenses Group. “Reclamações sobre líderes tóxicos têm sido bem recorrentes nas nossas análises e observamos que têm ocupado bastante a mesa das lideranças das empresas”.
Para visualizar melhor os impactos de uma gestão tóxica, a Talenses Group decidiu fazer uma primeira pesquisa dentro do tema, em maio deste ano, com 590 lideranças no Brasil. Segundo a pesquisa, ficou claro que um líder tóxico não está ligado a uma questão de gênero, geração ou raça, mas sim ao comportamento, afirma Souza.
Eles abusam do poder que tem
O abuso de poder é uma das principais razões pelas quais funcionários pedem demissão atualmente, segundo a pesquisa da Talenses Group.
“Na minha opinião, a posição do líder pressupõe uma maior humildade, ou seja, de servir as pessoas, mas muitos acabam aproveitam o lugar de privilégio para intimidar, para praticar assédios e favoritismos, delegar exigências irrazoáveis e até a criação de um ambiente de medo”, diz Souza. “São esses tipos de práticas que levam a um aumento significativo de rotatividade dos funcionários.”
Entre as pessoas mais afetadas por esse tipo de gestão, o estudo mostra que não há muita diferença entre mulheres e homens em relação a pedir demissão por conta de liderança tóxica, com 56% das mulheres e 55% dos homens que responderam já tendo pedido demissão devido a liderança tóxica.
Quais são os principais impactos de um líder tóxico?
A pesquisa também trouxe o que as pessoas acreditam ser os principais impactos negativos desse tipo de liderança. Saúde mental aparece no topo da lista:
A geração que diz não a líderes tóxicos
Pessoas da geração Y são as que mais já pediram demissão por conta de liderança tóxica, segundo a pesquisa. Por outro lado, as gerações anteriores, geração X e baby boomers, mesmo estando há mais tempo no mercado de trabalho, tendem a pedir menos demissão por causa de lideranças tóxicas.
“O que não é conhecido não é sentindo. Para as gerações anteriores que não sabiam que assédio era assédio, elas suportavam porque precisavam do emprego ou porque era comum no mercado naquela época. As gerações mais novas não necessariamente são menos resilientes do que as anteriores, mas estão mais informadas sobre comportamentos que não condizem com uma relação humana mais civilizada e por isso não aceitam ficar na situação por muito tempo”, afirma Souza.
As áreas que possuem mais líderes tóxicos
A geração atual é mais informada e menos tolerante a comportamentos abusivos, mas lideranças tóxicas podem ser encontradas em diferentes áreas de uma companhia, especialmente onde há pressão por resultados rápidos e em curto prazo como:
Finanças – Devido à alta pressão por resultados financeiros e a necessidade de precisão.
Marketing – Onde há uma pressão constante para obter resultados rápidos e eficientes.
Vendas – Que é altamente orientada para metas e resultados imediatos.
“Lideranças tóxicas podem existir em qualquer área, mas elas costumam ser mais evidentes em ambientes de alta pressão, em que o comportamento dos líderes, que estarão mais pressionados, será consequentemente mais tóxico com a equipe, mas isso depende também de pessoa para pessoa de reagir ou não ao ambiente”, afirma Souza.
O líder tóxico está em extinção?
Apesar de evoluirmos muito como seres humanos, o CEO afirma que as lideranças tóxicas definitivamente não estão em extinção, uma vez que o ser humano reproduz comportamentos tóxicos constantemente em diferentes esferas que não se restringe apenas ao trabalho, mas também na política, na religião, no esporte e até na família.
“Estamos vendo no mundo uma reedição frequente de muitos comportamentos antigos negativos como ditaduras e guerras, logo é possível enxergar uma repetição de comportamentos tóxicos em várias esferas de liderança”, diz. “Por isso não acredito que esse tipo de líder vai acabar, porque existem seres humanos nascendo todos os dias e recebendo estímulos de comportamentos tóxicos que serão levados para diferentes setores.”
Como evitar líderes tóxicos?
Para evitar líderes tóxicos, o CEO da Talenses Group sugere que as empresas sejam rigorosas logo no processo de contratação, realizando verificações de antecedentes e referências. Além disso, internamente, problemas de liderança podem ser identificados através de feedbacks e pesquisas, e abordados com conversas, mentorias e, se necessário, demissões.
“Para garantir que o líder da sua empresa tenha essas características ele precisa de formação contínua e treinamentos de liderança para acompanhar as mudanças do mercado e quebrar vieses muitas vezes tóxicos”, afirma Souza. “Líderes mal treinados confundem liderança com o poder, e o poder pode ser muito sedutor.”
As empresas mais estruturadas, segundo Souza, vão precisar não apenas identificar, mas valorizar o líder que a geração de hoje espera encontrar no mercado de trabalho, que é conhecido como “líder servidor”.
“A liderança que se busca hoje é inclusiva, empática e focada no desenvolvimento coletivo. Ela sabe mediar conflitos e não os gerar, ela sabe comunicar com transparência sem humilhar, e é a pessoa que dá sentindo ao trabalho de cada funcionário, ou seja, tem a capacidade de tirar o melhor de cada pessoa com respeito e valorização”.
Fonte: Exame