Biblioteca de Direito da USP completa 200 anos; conheça a história

Com mais de 500 mil itens, incluindo obras raras, a biblioteca é um marco no desenvolvimento do pensamento jurídico brasileiro.

Da Redação

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Fundada em 1825, antes mesmo da criação oficial do curso de Direito no Brasil, a biblioteca surgiu nos fundos do Convento de São Francisco, em um momento em que São Paulo ainda era uma pequena província. Seu nascimento está intrinsecamente ligado à construção do pensamento jurídico e intelectual brasileiro.

Origem

As raízes da biblioteca remontam ao século XVIII, quando Frei Manoel da Ressurreição, terceiro bispo da diocese paulistana, destinou sua biblioteca pessoal – composta por aproximadamente dois mil volumes trazidos de Portugal – ao uso comum de religiosos e estudantes.

O gesto visionário de Frei Manoel, com apoio do Marquês de Pombal, plantou a semente do que viria a se tornar um dos maiores acervos jurídicos do país.

Ao longo das décadas, a coleção cresceu com novas contribuições, como a doação do Bispo de Funchal, dom Luiz Rodrigues Villares, em 1810.

Mas foi após o falecimento de dom Mateus de Abreu Pereira, em 1824, que se consolidou a ideia de reunir esses acervos dispersos em uma única biblioteca pública, com o apoio do então presidente da província, Lucas Antônio Monteiro de Barros, o Visconde de Congonhas do Campo.

Os primeiros tempos

O primeiro responsável por gerir esse valioso acervo foi José Antonio dos Reis, um órfão negro que teve uma trajetória admirável.

Criado por um cônego da Sé e educado com apoio do bispo, Reis destacou-se nos estudos, ordenou-se padre e, mais tarde, tornou-se o primeiro bibliotecário da instituição.

Em 1832, graduou-se em Direito com louvor, como o melhor aluno da turma inaugural da Faculdade do Largo São Francisco, sendo posteriormente nomeado bispo de Cuiabá pelo Papa Gregório XVI.

Raridades

Hoje, o acervo da biblioteca ultrapassa os 500 mil itens, entre livros, periódicos, manuscritos, obras raras e documentos históricos. Cerca de 6.500 dessas obras são consideradas raríssimas, com origens que vão do século XVI ao XIX.

Entre os tesouros preservados estão uma edição da Divina Comédia, de Dante Alighieri, impressa em 1520, uma Bíblia Poliglota do século XVI com textos em diversas línguas e uma coleção da Encyclopédie de Diderot.

Também há manuscritos com as provas originais de alunos das primeiras décadas do curso de Direito, incluindo o livro Princípios de Direito Natural, de 1829, do primeiro professor da faculdade, José Maria de Avellar Brotero.

Esses registros preservam a memória de figuras notáveis que passaram pelos corredores da instituição, entre eles presidentes da República como Prudente de Moraes, Campos Salles, Washington Luís e Michel Temer, além de ministros do Supremo Tribunal Federal e do Ministério da Justiça, como Alexandre de Moraes.

Em 24 de abril de 2025, a Biblioteca do Largo do São Francisco completa 200 anos.(Imagem: Arte Migalhas)

Modernização

Atualmente, a biblioteca ocupa sete espaços distintos, distribuídos entre o prédio histórico do Largo São Francisco e o Anexo IV, localizado na Rua Senador Feijó.

Seu acervo também é integrado ao sistema CAFe – Comunidade Acadêmica Federada, permitindo amplo acesso a materiais físicos e digitais especializados na área do Direito.

Para atender à demanda crescente e organizar os materiais ainda encaixotados, está em andamento a construção de um novo edifício: o Edifício Cláudio Lembo, com dez andares e 8 mil m², localizado na Rua Riachuelo, nos fundos do prédio histórico.

O projeto contempla a modernização da biblioteca, áreas de estudo, espaços climatizados de armazenamento e um anfiteatro no topo com vista para o centro histórico de São Paulo.

A obra, orçada em R$ 62 milhões, está sendo viabilizada com apoio de parcerias públicas e privadas. Parte dos recursos – R$ 17 milhões – foi obtida por meio de um acordo de não persecução cível entre o Ministério Público de São Paulo e o Grupo CCR.

Outros R$ 16 milhões foram doados pela empresa JBS.

Segundo divulgado pela Folha de S. Paulo, as novas instalações contarão com iluminação adaptada para preservação do acervo, isolamento acústico, proteção contra raios UV e sistemas modernos de climatização.

O projeto também prevê a restauração dos ambientes originais da biblioteca, com móveis, pisos, paredes e a cobertura de madeira recuperados sob supervisão dos órgãos de proteção ao patrimônio.

Um programa especial chamado Adote uma Sala mobiliza ex-alunos e empresas para financiar a reforma de espaços históricos, como as tradicionais salas de leitura e do fichário. Os doadores têm seus nomes gravados em placas comemorativas e se comprometem com a manutenção do espaço por cinco anos.

Comemoração

A celebração do bicentenário da Biblioteca será realizada nesta quinta-feira, 24, às 18h, no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

A programação inclui ato solene de inauguração da placa comemorativa, acompanhado pela apresentação da Orquestra Locomotiva.

Na ocasião, farão uso da palavra o diretor da Faculdade, Prof. Celso Fernandes Campilongo; a chefe técnica da Biblioteca, Maria Lucia Beffa; a presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, Julia Wong; e o professor Maurício Zanoide de Moraes, coordenador do projeto de restauro da Sala de Consulta da Biblioteca.

 
Fonte: Migalhas

 

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